sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Carta a Diogneto - Marcas dos cristãos primitivos


Escrita cerca do ano 120 d.C. foi encomendada por um pagão culto que queria saber mais sobre os cristãos.



Exórdio


1. Excelentíssimo Diogneto, vejo que te interessas em aprender a religião
dos cristãos e que, muito sábia e cuidadosamente, te informaste sobre eles:

Qual é esse Deus no qual confiam e como o veneram, para que todos eles
desdenhem o mundo, desprezem a morte, e não considerem os deuses que os
gregos reconhecem, nem  observem a crença dos judeus; que tipo de amor é
esse que eles têm uns para com os outros; e,

finalmente, por que essa nova
estirpe ou gênero de vida  apareceu agora e não antes. Aprovo esse teu desejo e peço a Deus, o qual preside tanto o nosso falar como o nosso
ouvir, que me conceda dizer de tal modo que, ao escutar, te tornes melhor;
e assim, ao escutares, não se arrependa aquele que falou.


[...]

Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela
língua,  nem pelos costumes. Nem, em  parte alguma, habitam cidades
peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma vida de natureza
singular.

Nem uma doutrina desta natureza deve a sua descoberta à invenção

ou conjectura de homens de espírito irrequieto, nem defendem, como alguns,
uma doutrina humana.

Habitando cidades Gregas e Bárbaras, conforme coube em

sorte a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, no vestuário,
no  regime alimentar e no resto  da vida, revelam unanimemente  uma
maravilhosa e paradoxal constituição no seu regime de vida político-social.

Habitam pátrias próprias, mas  como peregrinos: participam de tudo, como
cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para
eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira.

Casam como todos e
geram filhos, mas não abandonam à violência os recém-nascidos. Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito. Encontram-se na carne, mas não vivem
segundo a carne. Moram na terra e são regidos pelo céu.

Obedecem às leis
estabelecidas e superam as  leis com as próprias vidas. Amam todos e por
todos são perseguidos. Não são reconhecidos, mas são condenados à morte;
são condenados à morte e ganham a vida.

São pobres, mas enriquecem muita
gente; de tudo carecem, mas em tudo abundam. São desonrados, e nas desonras são  glorificados;  injuriados,  são também justificados.  Insultados, bendizem; ultrajados, prestam as devidas honras.

Fazendo o bem, são punidos
como  maus; fustigados, alegram-se,  como se recebessem a vida. São
hostilizados pelos Judeus como estrangeiros; são perseguidos pelos Gregos,
e os que os odeiam não sabem dizer a causa do ódio.

Numa palavra, o que a
alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo. A alma está em todos os membros do corpo e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita
no corpo, não é, contudo, do  corpo; também os cristãos, se habitam no
mundo, não são do mundo.

A alma invisível vela no corpo visível; Também os
cristãos sabe-se que estão  neste mundo, mas a sua religião permanece
invisível. A carne odeia a alma, e, apesar de não a ter ofendido em nada,
faz-lhe guerra, só porque se lhe opõe a que se entregue aos prazeres; da
mesma forma, o mundo odeia os cristãos que não lhe fazem nenhum mal, porque
se opõem aos seus prazeres.

A alma ama a carne, que a odeia, e os seus

membros; Também os cristãos amam os que os odeiam. A alma está encerrada no
corpo, é todavia ela que sustém o corpo; Também os cristãos se encontram
retidos no mundo como em cárcere, mas são eles que sustêm o mundo. A alma
imortal habita numa tenda  mortal;

Também os cristãos habitam em tendas

mortais, esperando a incorrupção nos céus. Provada pela fome e pela sede, a
alma vai-se melhorando; também os cristãos, fustigados dia-a-dia, mais se
vão multiplicando. Deus pô-los numa tal situação, que lhes não é permitido
evadir-se.

2 comentários:

  1. Linda descrição de um cristianismo que não vivemos mais... precisamos retornar a ele.

    Bela postagem irmão.. acho que vou postar esta carta tbm.. há muita gente precisando ler algo assim, a começar por mim.

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  2. Fique a vontade, a carta é um documento histórico de como eram vistos os cristãos primitivos, infelizmente muitos de nós (inclusive eu) vivemos de modo bem diferente. Que Deus nos sustente em sua graça e nos faça crescer em amor e misericórdia.

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